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Felicidade de morrer...


Quem nunca passou por momentos especiais na vida e pensou que poderia morrer de tanta felicidade naquele exato segundo? Essa felicidade de morrer é o tema central que articulo com experiências vivenciadas e aprendizagens teóricas, as quais construíram no meu “ser” uma visão diferenciada sobre o mundo e as relações que são experimentadas no cotidiano.



A felicidade sempre foi considerada uma temática difícil de ser abordada e compreendida pelo ser humano, tendo em vista as distintas compreensões individuais e coletivas que circundam e estruturam o modelo de viver de cada pessoa. Nesse sentido, é impossível indicar práticas e modelos de felicidade para outras pessoas, pois os estímulos são diferenciados, as experiências são pluralizadas e os símbolos atrelados ao meio social e cultural variam conforme a fase do ciclo vital.


Mas e a felicidade de morrer? Sim, ela está aqui! Em minha trajetória vital, sigo uma linha de compreensão simbólica dos diferentes eventos cotidianos, ou seja, os estímulos são desencadeados por pequenos símbolos que ocorrem aleatoriamente no meu dia. Essa linha de compreensão é precedida por uma estruturação simbólica da felicidade, sendo que o exercício central é vincular algum sentimento “feliz” à situações, objetos, palavras ou qualquer outro símbolo.


No momento que os esses pontos recebem a intervenção e tornam-se símbolos, eles podem disponibilizar um estímulo recorrente de felicidade. Mas o processo não é tão fácil de ser estruturado e os símbolos precisam de uma trajetória mental e histórica para serem construídos. No meu caso, os símbolos representam ações simples, como observar o pôr do sol da minha varanda, manusear plantas e vibrar com o crescimento ou aparecimento de uma flor. Esses estímulos pertencem aos meus dias e trazem felicidade porque fazem sentido para a minha vivência.


Os símbolos não desencadeiam os mesmos sentimentos em duas pessoas, eles são individuais e por esse motivo, tão difíceis de articular o encontro do “ser” com a felicidade. Logo, o prazer que eu sinto ao escrever reflexões diariamente, pode não significar uma prática estimulante para você leitor.


Desta forma, a busca pelos símbolos é constante e imprevisível. A estruturação dos estímulos diários oferecem bons momentos de felicidade. Mas, a felicidade de morrer é desperta em poucos desses espaços. Costumo dizer que a felicidade de morrer ocorre em situações que ofereçam um “combo” de símbolos que interagem sem planejamento e oferecem uma sensação única e intransferível do momento. Sempre fui adepto a conversas articuladas sobre o meio social, ditas como “cabeça”, a observar as estrelas identificando as constelações, a uma boa companhia e o silêncio do ambiente.


Contudo, esses estímulos nunca haviam interagido entre si para compor um momento e, eis que há poucos dias na borda da piscina sussurrei: - Que felicidade de morrer!



O sussurro incorporou um momento de felicidade intensa, reconhecível, mas ao mesmo tempo desconhecida e sucinta em sua simplicidade e rapidez em finalizar. Mesmo sendo uma sensação incrível, tive noção de sua finitude, pois os estímulos são voláteis, o cachorro late, a barata sobe na calçada, a água da piscina esfria e a nuvem esconde o belo Cruzeiro do Sul ao céu. Sim, caro leitor! A felicidade não dura muito, e arrisco dizer que é a melhor parte de ser feliz.


Se a felicidade é constante, a sensação passa batida, não é percebida, começa a ser assimilada como um estímulo comum e permanente, perdendo o sentido com o tempo. A inconstância da felicidade possibilidade a busca constante por estímulos usuais e inovadores no nosso cotidiano e exercita a capacidade de guardar e valorizar os momentos de sua ocorrência.


Desse modo, a felicidade não possui receita pronta, podemos até identificar os ingredientes dessa receita, mas as quantidades são dosadas pelo próprio detentor da liberdade de “tentar”. A única dica que posso oferecer, é que os símbolos estão no nosso cotidiano, não é necessário buscar tanto para encontrar aquilo que nos deixa bem, por isso, reflita, observe e articule os estímulos de maneira simples.


Caro leitor, espero que esse texto suscite pequenos anseios sobre a sua felicidade e, independente do estado em que ela se encontre atualmente, lembre-se que é volátil e que depende de você. Logo, se você encontrou a sua felicidade de morrer, compartilhe a experiência comigo e com as pessoas que o cercam, experiências positivas devem ser lançadas ao vento.


Sobre o autor:

*Enf. Me. Luís Felipe Pissaia 

COREN/RS 498541


Mestre e Doutorando em Ensino

Especialista em Gestão e Auditoria em Serviços da Saúde


Docente Universidade do Vale do Taquari - Univates 


Enfermeiro de Rel. Empresariais - Marketing e Relacionamento Unimed VTRP

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