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Uma resenha de adormeceres

Por Luís Pissaia

Quais são as lembranças dos seus adormeceres?



Sonhos tranquilos ou pesadelos, todo o Ser humano partilha destas vivências ao longo da vida. Desde uma queda de escada, chegar à escola sem calçados, encontrar parentes distantes, ser atacado por um urso, cenas de sonhos comuns e que possuem significados quando analisados em profundidade sob o viés do inconsciente coletivo.


A simbologia dos sonhos, ou melhor, dos adormeceres é o motivo pelo qual essa última coluna do ano resenha a obra Minha mente ao adormecer do gaúcho e amigo, Carlos Spaniol. Publicado neste ano pandêmico de 2021 pela editora Viseu, os dezesseis adormeceres de Carlos compõem uma belíssima obra de autorreflexão e que merece destaque no momento atual de atenção aos assuntos da “mente”. A capacidade de lutar contra os demônios reais no espaço inconsciente dos sonhos é uma estratégia delicada e que necessita de ajuda profissional, por este motivo, busque ajuda especializada para enfrenta-los.


Os adormeceres, não necessariamente noturnos são uma fonte inesgotável de símbolos passiveis de compreensão e direcionamento das ações individuais e coletivas. A mente de Carlos quando analisada a partir das concepções de Carl Gustav Jung é um modo de linguagem, assemelhando-se ao uso da escrita, pintura, gestos e comportamento, dentre outras tantas. Aos que interagem com as nuances da mente, é sabido que nem todas as dores do Ser podem ser decodificadas por meio de palavras, sejam elas faladas ou escritas, e neste quesito o inconsciente busca outros caminhos para demonstração.


A simbologia atrelada aos sonhos ajuda inúmeras pessoas a compreenderem as sombras que habitam o meio consciente, nunca as extinguindo, mas construindo argumentos de compreensão dos significados para a convivência pacífica. Para Jung os fatos que escapam do consciente não deixam de existir e sim permanecem na imensidão do inconsciente cultivado pelo Ser. Desta forma, os fatos inconscientes influenciam a vida desperta de Carlos, causando sofrimento e angústia. Esconder pensamentos embaixo do tapete não é a melhor saída, pois o fantasma do verão passado sempre volta.


Minha mente ao adormecer é fruto de um processo terapêutico intrincado que levou ao estudo e registro em diário dos adormeceres. De nada adianta sonhar, se não desenvolvermos a capacidade de refletir sobre os símbolos e deles angariarmos ressignificações para uma vida plena.


Os dezesseis adormeceres são fascinantes, de uma descrição impecável que insere o leitor no cenário inconsciente e partilhando dos sentimentos do autor. Com voz em primeira pessoa, a leitura desperta sentimentos sobre as cenas, o desenvolver dos diálogos e situações dos adormeceres. As andanças de Carlos pelos adormeceres demonstram a capacidade da mente em trazer a tona as sombras de relacionamentos, medos, angústias e desejos de um Ser humano.

A visão do monstro na jaula do primeiro adormecer impacta de modo que o busco por entre as árvores de todas as estradas de chão batido em que passo. Da mesma forma que o sentimento de angústia vem ao circuito ao imaginar a solidão da casa/quarto do autor no segundo adormecer.


Cada capítulo retira a cobertura de uma ferida. O próprio Jung indica que os símbolos são universais e partilhados pela coletividade. A bela casa finamente decorada no quinto adormecer faz acolher o humanoide que a inunda de lágrimas. Movimento que é percebido no apartamento sob a ponte, ilusão do décimo terceiro adormecer que privado da luz do sol, o autor fica vislumbrado por maravilhas enganosas. Medo de cair da escada de cordas do sétimo adormecer e que vislumbra o demônio sensual do último capítulo.

Os capítulos são envolventes, misturam símbolos, pessoas reais e outros tantos detalhes que impactam o próprio consciente do leitor. A obra de Carlos sintetiza aquilo que de mais humano existe, o sentimento. A noção de que as histórias compõem a trajetória da vida e que os acontecimentos nada mais são do que a reprise da maneira como reagimos frente ao mundo.

Os adormeceres indicam os símbolos pelos quais a vida se justifica. Cada indivíduo possui os seus, o sentido de Ser único é resultado dos caminhos percorridos e principalmente pelos cruzamentos atravancados.


Indico a obra não somente aos curiosos pela mente humana, mas a todos que empaticamente defendem a humanidade em suas diferentes demonstrações simbólicas. Minha mente ao adormecer é uma entrega artística para a humanidade.



Sobre o autor - *Enf. Me. Luís Felipe Pissaia  - COREN/RS 498541

Mestre e Doutorando em Ensino

Especialista em Gestão e Auditoria em Serviços da Saúde

Docente Universidade do Vale do Taquari - Univates 

Enfermeiro de Rel. Empresariais - Marketing e Relacionamento Unimed VTRP

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