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HIV e envelhecimento, uma relação cada vez mais frequente

Por Luís Pissaia




Uma relação pautada no preconceito e estigma, o HIV e o envelhecimento caminham juntos e estratégias de educação em saúde são a única saída para compreender melhor este cenário.


O tema não é ao acaso, o primeiro dia do mês de dezembro é lembrado como Dia Mundial de Luta contra a AIDS. Momento de reflexão nos diversos campos sociais envolvidos no desenvolvimento de estratégias de contenção do HIV e melhoria da qualidade de vida da população com AIDS. E, quando pensamos no HIV no contexto da pessoa idosa, as discussões são precárias devido à falta de efetividade nas políticas públicas.


Mas, antes de iniciar esse escopo de discussão, é importante retomar os conceitos básicos do assunto. Os primeiros casos de transmissão do HIV foram notificados somente na década de 80, recorte temporal que torna recente as pesquisas e estratégias sobre o vírus. Em suma, de lá pra cá, muitas estratégias foram colocadas em prática, desde a disseminação do preservativo como barreira de transmissão, testes rápidos para detecção em massa na Atenção Básica e tratamento cada vez mais resolutivo para a diminuição da carga viral e garantia de uma sobrevida com qualidade, mesmo sem a cura. Cura que pode estar próxima com o avanço nas pesquisas e testes da vacina anunciada recentemente.


O HIV, sigla para Human Immunodeficiency Virus identifica o vírus responsável por infectar o organismo, expondo-o a algumas infecções devido a queda na barreira de proteção imunológica para agentes causadores da tuberculose e pneumonia, por exemplo. Uma vez infectado, o organismo destrói os linfócitos T-CD2+ incapacitando o sistema imunológico e oportunizando o desenvolvimento de outros patógenos, a este processo denomina-se como Acquired Immune Deficiency Syndrome, a AIDS.


Conforme dados do Departamento de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde, foram detectados 13.677 casos no Brasil em 2020, número reduzido em comparação com 2019 de 41.909. Quando os dados são estratificados para a população idosa, ou seja, para os indivíduos com 60 anos ou mais, os números impressionam. Entre os anos de 2007 e 2008 o contingente foi de 212 casos, saltando para 963 em 2019 e reduzindo para 333 em 2020. Contudo, a redução nas taxas gerais e na população idosa pode ser fruto do período pandêmico em que os investimentos dos serviços de saúde foram direcionados para a Covid-19, impactando diretamente na disponibilidade de exames diagnósticos, acompanhamento da equipe multiprofissional e tratamento para a pessoa com HIV.


O isolamento social preconizado na pandemia distanciou as pessoas idosas dos serviços de saúde, principalmente a Atenção Básica, porta de entrada para a rede e responsável por ofertar o maior número de testes rápidos para detecção precoce do vírus na população em geral. Logo, a queda nos números gerais de infectados possui a interferência deste movimento e que impacta nas notificações realizadas no período.


Outro ponto que merece atenção é o preconceito presente na população idosa relacionado ao viés sexual. A sexualidade é um tabu para a pessoal idosa e tal situação deve ser compreendida com um olhar para a época em que desenvolveram os seus conceitos sobre o tema, em sua maioria pautada no resguardo e zelo. A dificuldade em falar sobre sexo é cultural, oriunda de um tempo em que as orientações sobre a vida sexual foram censuradas em quaisquer ambientes sociais, incluindo a escola e a família.


O preconceito social se mostra cruel contra o comportamento da pessoa idosa, indagando sobre a manutenção de uma vida sexual ativa, participação em festas e confraternizações sociais e relações afetivas momentâneas. Essa situação piora ao inserirmos medidas de proteção no contexto da vida sexual. O uso do preservativo é um dos exemplos, seja pela falta de compreensão ou até mesmo por dificuldades fisiológicas, como a disfunção erétil. Os fatos por menores não são comentados, mas a falta de lubrificação e mobilidade física dificulta a inserção do preservativo feminino no canal vaginal, da mesma forma a ereção peniana pode ser prejudicada pelo uso de determinadas medicações e até mesmo fatores emocionais que afligem o indivíduo no momento.


Desta forma, o sexo para a pessoa idosa precisa ser trabalhado e conduzido de forma a combater o estigma relacionado com o preconceito social. Quando as medidas preventivas são falhas, o cenário é este, de aumento recorrente nas taxas de infecções pelo HIV na população idosa, fato que impõe ainda mais dificuldade para o diagnóstico. Na maioria das vezes o diagnóstico do HIV na pessoa idosa é tardio, comprometendo funções vitais do organismo e sobrecarregando o sistema de saúde para atender a estas demandas.


O ideal é que os testes rápidos para diagnóstico sejam incluídos no rol de exames anuais que a população adulta e idosa realiza. O diagnóstico precoce evita o desenvolvimento de doenças oportunistas e favorece a redução da carga viral. A qualidade de vida não tem preço e por isso a educação em saúde faz a diferença no combate do HIV. Em suma, as estratégias que favoreçam a quebra de paradigmas sobre a vida sexual e medidas de proteção devem receber investimentos e atenção pelas equipes de promoção à saúde. A pessoa idosa possui espaço de fala na sociedade e deve ser defendida perante a lei. Um envelhecimento saudável depende do movimento social de quebra de paradigmas.



Sobre o autor - *Enf. Me. Luís Felipe Pissaia  - COREN/RS 498541

Mestre e Doutorando em Ensino

Especialista em Gestão e Auditoria em Serviços da Saúde

Docente Universidade do Vale do Taquari - Univates 

Enfermeiro de Rel. Empresariais - Marketing e Relacionamento Unimed VTRP

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