Por Ana D´Avila*
Ela caiu no papel com a leveza de um salto de paraquedas. Mas com a incerteza do destino. Com a velocidade sem freios, devagar. Como os grandes saltos. Indecifráveis, às vezes. Com sentido em outras. Lá vinha ela. Navegando no vácuo com aquela perturbação dos gênios. Ou talvez,com a mediocridade de quem se acha plena. Fluia. E aos poucos foi aparecendo na paisagem úmida, de uma chuva que chegou e se foi. Como ela. A personagem. Tão chegante, tão inexplicável. Que procurava agora, preencher aquela página tão branca e logicamente existir. Como toda criação literária.
Era de carne e osso. E de cérebro logicamente. Porque na literatura a imaginação se materializa. E a personagem passou a existir. Pela manhã, escovava os dentes, tomava café, comia bolachinhas e algum suco. Depois vagava entre o fogão na cozinha e a biblioteca na sala, onde colecionava autores e textos. Das mais diferentes nuances. Gostava da filosofia e dos romances. Dos clássicos. Sem dispensar autores modernos. A realização se dava, algumas vezes na cozinha. Com o cheiro dos temperos e na chama do fogão. Mas em todas as vezes, nas asas de vôos literários. Questionava o que seria mais gostoso. Uma sopa bem temperada ou algum autor desconhecido que criasse nela uma estranha sensação de prazer?
A personagem humana e pensativa fazia experimentações. De pensamentos, de ideias, de confrontos e de necessidades. Entre elas, o sexo. Que chegava pelas madrugadas em meio a seus sonhos mais bizarros. Este fazer sexo, era convencional. Na cama. Entre travesseiros e fronhas. Era uma necessidade premente, sem muito exagero. Era como comer uma fruta. Satisfazia. A necessidade vinha e voltava, de tempos em tempos. Pois ela já não era uma adolescente. Era uma mulher. Com selo de autenticidade e, que se acalmava com o sexo.
Ela pensava. Tinha asas e voava para onde quisesse. Certa feita sobrevoou a Espanha. Viu coisas de que teve medo. Um acidente nuclear. Em sobressalto, interrompeu o sono. Foi fazer uma pesquisa na Internet sobre o assunto.
O ser humano poderia sobreviver à uma explosão nuclear? Como seria? Quais as consequências? Como aconteceriam estas mortes? Haveria algum antídoto para o veneno nuclear? E assim, passava horas nas madrugadas pilotando seu computador em busca de dados. Depois chorava. Depois se escondia embaixo do lençol macio que existia em sua cama.
Durante o dia ,passeando pela praia, sentia o som do vento. Na natureza se completava.
Quando o vento era muito forte sentia-se voando. Para longe, como as aves migratórias. E vendo a areia tornar-se outra vez, branquinha. Sem o contato humano , sem nenhum plástico. Tudo era arremessado para o além. Além mar. Além de tudo que causasse medo. Inclusive a bomba atômica. Que foi e, sempre será um invento desnecessário e infernal. E continuou na Internet… sempre pesquisando ciência e descobertas. Sem deixar de ser , uma personagem no dito mundo, civilizado e evoluído.(Ana D´Avila)
**************
*Ana D'Avila
Jornalista, cronista e poetisa.
Comments