Por Ana D´Avila*
Quase meia-noite de uma quarta-feira de lua crescente. O mar encapelado transformava água salgada em espumas. E em meio aquilo tudo e, parecendo tao perto, um som de trombetas se evidencia.Poderia ser dos anjos anunciando coisas boas ou a anunciação do fim do mundo.
Histórias a parte e uma mulher esquisita, na rua, carregava um saco de comida. Para onde iria, ninguém sabia.
Por certo ela não tinha intenção de fazer ninguém chorar.Mesmo porque, as lágrimas não estavam sendo derramadas por ela.Nem por causa dela. As lágrimas eram de outro sofrimento. O mundano. O vivido em dias de intenso desatino.O não apreciado por nenhum anjo ou santo conhecido.
De repente sons de sininhos lembravam o Natal. Que ainda demorava para chegar. Mas se faziam sentir aguçando a audição, já balanceada pelas trombetas. Que diminutas, foram pouco a pouco desaparecendo. Os sinos, sons dos Deuses, enternecem nosso espírito. Na rua, luzes. Na janela, compasso de uma noite fria. Ao fundo, o mar e suas espumas.
Fechei os olhos. Pensei nos anjos e nas alucinações . Pensei pouco em mim. Aliás, nem sabia da minha existência. Não faço questão de saber. Se existo ou sou só uma miragem. De qualquer forma, a experiência foi sentida.
Não quero mais saber se o pacote da mulher esquisita foi entregue.Nem o quer fizeram com ele. Hoje e sempre quero: Carregar minhas baterias com sopros de mar,luz, sol e lua.Estarei feliz. Isto é tudo que importa.
Texto publicado originalmente no veículo de comunicação: https://www.diariodeviamao.com.br/ana-davila-as-trombetas-da-quarta-feira/
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*Ana D'Avila
Jornalista, cronista e poetisa.
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