top of page

A velha do rolê



Já faz um tempo que queria falar sobre esse assunto com vocês. Sabem, na verdade eu escrevo, mas no fundo é uma tática para me escutar porquê tem coisas que a gente só assimila quando fala para alguém…cá estou eu fazendo isso com vocês. A percepção da vida é complexa! Lembro bem quando eu tinha meus 15 anos olhava para meus pais e achava eles extremamente velhos, no auge dos seus 45 anos. Suas roupas, seus trejeitos, seus gostos achava tudo antiquado.


A vida dá voltas… o tempo passa e os papeis se invertem. Dai o universo vem e diz para ti: ”chegou tua vez baby. Segura essa.” Hoje sou eu que estou no lugar dos meus pais, a roda virou rápido e nem percebi. Filha completando 18 anos,tirando carteira de motorista,fazendo a vida dela. Meu Deus foi ontem que meu bebê nasceu, que trocava fralda,mamadeira e tudo mais.

Foi anteontem que eu estava na faculdade. Foi antes disso que estava preocupada com qual vestido usar na festa de 15 anos da minha colega de colégio, sem boleto nenhum para pagar, sem as responsabilidades da vida adulta. Sem os cabelos brancos que há dois meses resolveram proliferar de forma bizarra em mim. Sem as rugas que já estão me incomodando.


Quando começa o negócio é lomba abaixo acredito eu. Dor nos joelhos, sintomas da menopausa e por ai vai. Não irei transcorrer tudo o que se passa para poupar à todos, inclusive a mim. Não me cai nada bem lamentações. O fato é que o mundo dá voltas e tudo que sobe um dia desce. Vou compartilhar uma coisa que me aconteceu que comprova esse fato.


Uma grande amiga marcou um jantar para comemorarmos seu aniversário. Me disse ela: “amiga fui no restaurante aquele bem legal, reformaram está demais. Resolvi que vamos comemorar lá. Tu vai amar, diz que tem um sushi maravilhoso, ambiente bom. Vamos na quinta comemorar.”

Perfeito! No horário combinado ela me pegou de uber. Como eu sabia que era um lugar da moda fui com um modelito mais moderninho. Quando entramos já achei estranho porque mal tinha luz… uma penumbra. Tivemos que mostrar nossas identidades e recebemos uma pulseirinha. Pensei um restaurante com pulseirinha?! Estranho mas Ok!


Sentamos numa mesa bem agradável, só havia nós e mais meia dúzia de gato pingado. Éramos quatro mulheres maduras na faixa dos 50 anos. Penumbra, som alto tipo rave leve, mas aquela batida constante que atormenta a mente. Bebemos, comemos (comida maravilhosa), rimos tanto. Conversarmos aos gritos, já que o som estava muito alto. Num certo momento minha amiga chamou o garçom delicadamente e solicitou: “eu poderia lhe pedir, se for viável, baixar um pouco o volume do som? Tá muito alto.” Ele deu uma risada no canto da boca e respondeu prontamente: “não só não é viável como em breve ele vai aumentar mais ainda.” Gargalhadas mil!!!!! Foi ai que começamos a olhar na nossa volta. Um mar de jovens e mais jovens. Com suas roupas, seminuas, seus celulares em punho, seus combos de bebida de vodka e energético. Na verdade nosso restaurante se transformou numa baladinha. As pessoas começaram a se levantar.



Confesso que se a música estivesse boa (da minha época) eu teria participado mais ativamente da festinha. Mas naquele ambiente estávamos totalmente deslocadas. Minha amiga voltou do toalete e disse: “gurias o toalete é tão lindo que vale a pena conhecer.” Meu Deus!!!!! Quem está preocupado com o toalete?! Mesmo curiosa me neguei a ir!!!! Tudo tem limite nessa vida!!!!!


Depois de resistirmos a todos aqueles estímulos, concluímos que já estava na nossa hora, até porque já eram 23h e no outro dia tínhamos que levar nossos filhos cedo na escola.


Foi então que ocorreu a gota d’água do sentimento de não pertencimento. Sobrou muita comida. O que se faz nesse casos? Eu não sei vocês, mas nós levamos para casa. Óbvio! Isso nem se questiona. Não existe constrangimento algum. Isso economiza não só dinheiro mas também facilita de ter algo pronto ali na geladeira.


Minha amiga, a dona da festa, chamou o garçom mais uma vez.


Ela: “Oi… eu gostaria de levar a comida para casa que sobrou, por favor.”

Ele: “vou verificar se existe essa possibilidade.”


Nós ficamos surpresas com a resposta. Ele sai e vai prontamente falar com gerente , depois com metre na cozinha. Volta consternado: “Sra., levar a comida a senhora até pode levar, mas não temos potes para colocar a mesma.”


Meu deus! Que lugar é esse que não tem uma embalagem para levar?! Mais um ataque de riso coletivo!!!!! Dai me veio a última e derradeira reflexão. Quem em sã consciência pede para levar o que sobrou da comida numa embalagem numa baladadinha?! Que mico!!!! As pessoas estão ali para curtir o momento! Beber, flertar (nem se diz isso mais- mas vocês entenderam).


E finalizo a coluna de hoje com o último pensamento: me transformei no que mais temia… na tia do rolê! Hehehehe


Mas não tá morto quem peleia! Ou melhor ainda: dias de luta… dias de glória!

Certamente o próximo aniversário será num outro lugar mais adequado à nossa idade !!!!!!!

Um beijo até a próxima

Psicóloga Vanessa Campos


Para ver mais artigos de Vanessa Campos clique aqui.

bottom of page