Por Lizi Ricco
A equipe se deslocou em peso, a editora, a jornalista, o fotógrafo e a maquiadora, para uma rodada de chimarrão com bate-papo na casa da nossa conterrânea Rosane Marchetti. Ela não só abriu a porta do seu apartamento pra nos receber, como também seus braços e coração, nos acolhendo de forma muito carinhosa e gentil. Enquanto preparava-se para a seção de fotos a conversa fluiu descontraída entre a chegada de um personagem e outro, seus quatro gatos, que nos encantaram com a beleza e a vitalidade. Digo vitalidade e falo em personagens porque estes bichinhos hoje esbanjam saúde, mas antes de serem acolhidos por Rosane tinham outra realidade. Todos os quatro foram resgatados e cuidados com muito amor pela jornalista e hoje fazem parte da sua vida. Nesta entrevista você vai conhecer um pouquinho mais sobre a vida e a carreira da nossa jornalista gaúcha Rosane Maria Marchetti Reinelli, gaúcha de Nova Prata, casada com Luis Roberto Martins e mãe da Camila, 33.
Foto: Marlon Carvalho
Eléve: Quando ingressaste na carreira de jornalismo e fazendo o quê?
Rosane: Eu estava com 17 anos, quando vim morar em Porto Alegre para cursar a faculdade de Ciências Sociais, a Sociologia. Quando estava quase me formando, iniciei no jornalismo, porque eu sempre gostei muito de escrever. Então, enquanto estudava eu fui chamada para um teste na Rede Pampa, passei e lá fiquei em torno de dois anos e depois fui para RBS, onde estou até hoje.
Eléve: Quantos anos de RBS e quais foram os trabalhos mais marcantes da tua trajetória até aqui?
Rosane: São quase 30 anos de jornalismo e mais ou menos 28 de RBS, ou seja, praticamente toda minha vida profissional. Eu fiz um pouquinho de tudo, entrei como repórter, então fui repórter geral, de polícia, de esporte, participei do núcleo da Globo, entre outras. Daí sofri um acidentei de moto, tive ficar quase um ano parada e quando retornei tinha dificuldade pra andar. Então eu fui pra apresentação, comecei apresentando o Bom Dia Rio Grande, depois também a Rede Regional de Notícias (RRN), que passou a chamar JA Notícias e hoje apenas JA. No JA fiquei até três anos atrás, no entanto nos últimos dois anos eu já estava fazendo mais reportagens do que apresentando o programa. Eu havia voltado para o núcleo da Globo pra fazer o que estou fazendo agora que é o Globo Repórter, o JA estava mudando a configuração e passaria ser apresentado por uma pessoa só, então eu passei a trabalhar na reportagem direto, que é efetivamente uma das coisas que mais gosto de fazer. Estar na rua, ter contato direto com as pessoas, pesquisar, enfim, é uma rotina diferente.
Eléve: Quais foram seus maiores desafios até conquistar essa posição importante no cenário da comunicação, na principal emissora de televisão do país?
Rosane: Posso dizer que toda a minha vida foi um desafio e segue sendo. Eu fui mudando, fazendo coisas diferentes, foram várias tarefas e funções, uma atrás da outra, me desafiando. Eu fui editora, editora-chefe, editora-executiva, passei por quase todos os programas da RBS, inclusive o Conversas Cruzadas, que na época somente homens apresentavam, eu cheguei a substituir o Lasier Martins. Apresentei outros programas na TVCom, então pra mim tudo foi um desafio, eu sinto minha vida profissional um desafio, em cada uma das etapas que eu vou seguindo. Mesmo agora, que estou fazendo reportagem, algo que eu comecei a carreira fazendo, eu considero um desafio maior ainda, pois eu estou fazendo grandes reportagens pra um programa que é um dos mais importantes de reportagens do país, ou pelo menos o de maior audiência. Digamos que eu nunca tive numa situação de conforto, estou sempre buscando aperfeiçoar meu trabalho, tentar mostrar o meu melhor e tudo isso é um desafio, um prazeroso desafio.
Eléve: Em 2011, recebeste o diagnóstico de câncer de mama. Como lidou com a doença e o que te deu força para enfrentá-la?
Rosane: A descoberta da doença foi por acaso, em um exame de rotina. Eu não esperava, assim como ninguém espera. O diagnóstico foi um grande susto, como se eu tivesse perdido o chão. Aí vieram aqueles pensamentos, tô doente, vou morrer... enfim, porque mesmo que a gente saiba que o câncer hoje em dia não é uma sentença de morte, tem muita gente morrendo. Daí eu tive que parar e pensar, eu tenho duas alternativas, me entrego ou enfrento. Então decidi enfrentar e falar pra todo mundo, dividir o que estava acontecendo comigo, no sentido de mostrar que eu estava conseguindo me recuperar e quem estivesse passando por isso também poderia. Pensei em dividir a minha força e estimular outras pessoas nessa situação. Por mais incrível que pareça ainda existem pessoas preconceituosas com o câncer, que olham pra pessoa doente e dizem “ah essa aí vai morrer”. É uma pena, mas ainda existe. Por causa disso muitas pessoas acabam escondendo a doença e passam por ela, sem contar nada, enfrentam tudo de forma mais reservada. Eu decidi falar, porque realmente eu pensei, se eu tô conseguindo superar, outras pessoas também conseguem, então eu vou dar o meu testemunho. Fácil não é, é horrível sim, mas tem que ter coragem, enfrentar mesmo e com muita força, pois tem o tratamento, a medicação, os avanços da medicina, ou seja, tem alternativas pra essa luta. Além disso, dividir esse problema me ajudou muito, tive muito apoio do público, principalmente pelas redes sociais, recebi muitas mensagens carinhosas e também recebi alguns santinhos que estão aqui comigo e eu vejo e agradeço todos os dias. Eu ganhei muita energia com o carinho de pessoas que eu nem conheço, mas que fizeram muito a diferença na minha caminhada e por isso sou eternamente grata. A vida não é exatamente como a gente quer, mas como ela se coloca pra gente.
Eléve: Este ano recebeste o Troféu Mulher Imprensa, promovido pelo Portal e Revista Imprensa, o que representou pra ti esse reconhecimento de ser a Melhor Repórter do Brasil?
Rosane: Foi fantástico. Primeiro porque este prêmio acontece pela indicação de profissionais influentes do mercado brasileiro de comunicação, que indicam só feras e lá estava eu entre as feras. Demorei pra entender o que estava acontecendo... (risos). Depois das indicações veio a votação pelo grande público e assim eu ganhei com uma porcentagem muito boa. Eu fiquei muito feliz. Esse prêmio é o reconhecimento de um trabalho que eu realizo com tanto carinho e tanta dedicação querendo sempre levar alguma coisa boa para as pessoas, mesmo que às vezes a vida seja tão dura, mesmo quando eu tenho que contar algo ruim eu tento trazer algo bom junto, e esse prêmio me mostrou que alguém viu o que eu estava tentando fazer. Além disso, no final do ano passado, eu ganhei o Prêmio Press, da Revista Press aqui do Rio Grande do Sul, também como melhor repórter. Então foram dois prêmios mais recentes que deixaram muito feliz mesmo.
Eléve: Se destacar na profissão de jornalista é muito difícil. O que você diria para quem está ingressando na carreira e tem o sonho de conquistar reconhecimento?
Rosane: A primeira coisa é ter domínio da informação, ler de tudo, ler poesia, jornal, literatura, ouvir histórias, ouvir o que os outros têm a dizer, assistir televisão, ouvir rádio, porque tudo isso te ajuda abastecer e enriquecer o pensamento para quando fores construir alguma coisa e desenvolver o teu trabalho com um diferencial. Independente de ter nascido com o talento ou não, o que vai diferenciar um profissional do outro vai ser a informação.
Eléve: O que tu sentes em relação ao “regionalismo” gaúcho? Tens este sentimento também em relação à nossa terra? Acha que o RS se destaca dos demais estados brasileiros em algum aspecto especificamente?
Rosane: Eu acho é que somos muito exibidos... (risos). Acho que a diferença está no modo em que nos vemos em relação aos outros e não exatamente sermos melhores. Temos aquela coisa de achar que somos ou poderíamos ter sido um país, que somos mais fortes e o que fazemos é melhor. Eu acho isso muito bonito, este amor, este envolvimento com a cultura, com a história, com a nossa terra. Mas, na verdade acho que temos é que ter humildade pra pensar que não somos os melhores. Penso sim, que temos muita coisa pra dar e contribuir pra o resto do país, pela nossa origem, a mistura de povos e tal, mas às vezes eu acho um pouco exagerado demais este “regionalismo”.
Entrevista publicada originalmente na edição impressa número 18, da Revista Eléve.
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